Evento discute ensino de português na Rússia

Em seminário na FFLCH, professor Dmitry Gurevich apresentou como universidades russas passaram a adotar o português como língua de proficiência em seus cursos

Por
Paulo Andrade
Data de Publicação
Editoria

 

Nos dias 10 e 11 de julho, a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP recebeu o professor Dmitry Gurevich, da Universidade Estatal Lomonossov de Moscou (MGU), da Rússia, que ministrou o seminário A língua portuguesa na Rússia

No encontro, Gurevich, que é professor no Departamento de Linguística Ibero-Românica da Faculdade de Filologia da MGU, apresentou aos participantes diversas características da norma linguística russa do ponto de vista de um filólogo nativo. 

No segundo dia, o docente apresentou a MGU, suas semelhanças e diferenças com a USP e o ensino de língua portuguesa na Faculdade de Filologia da instituição.

Gurevich conta que seu interesse pela língua portuguesa começou pela música, especificamente ao escutar um fado português pela primeira vez. Anos depois, já formado em Letras, conseguiu uma bolsa do Instituto Camões e estudou por nove meses na cidade do Porto, em Portugal. 

Em 2005, esteve na USP, já como professor convidado de Russo. "A professora Arlete Cavaliere [do Departamento de Letras Orientais da FFLCH] contribuiu muito para isso. Fiquei apaixonado pelo Brasil e pela cidade de São Paulo, tanto que eu tentei aprender a pronúncia brasileira e deixar de lado a pronúncia do português de Portugal", lembra.

Gurevich também destaca a importância do intercâmbio entre USP e MGU: "A USP e a Universidade Estatal de Moscou têm um protocolo de intercâmbio de alunos e professores. No âmbito desse protocolo, os estudantes brasileiros e russos podem fazer cursos na universidade do país acolhedor".

O professor acha importante ampliar essa relação com possibilidades para pesquisadores participarem de grupos de pesquisa, realização de projetos, além de mais investimentos em bolsas e incentivos para o intercâmbio. "Nossas universidades estão entre as maiores no mundo e, com certeza, são ponto de referência em seus países. Esse fato nos obriga a juntar os esforços para fazer o ensino superior mais adequado aos desafios do mundo moderno".

O professor
O professor russo Dmitry Gurevich acredita que há espaço para ampliar as relações entre a USP e a Universidade Estatal Lomonossov de Moscou. (Foto: Renan Braz)


A língua portuguesa na Rússia

Uma pergunta que nos vêm de imediato é: por que ensinar português na Rússia? O professor conta que o português começou na MGU na década de 1960, com disciplinas optativas para alunos de outras línguas, principalmente os de espanhol.

Ele destaca que as novelas brasileiras passaram a ser transmitidas pela TV russa nas décadas de 1980 e 90. Uma delas foi Escrava Isaura (TV Globo, 1976), exibida por lá nos anos 1980: "Essa telenovela teve um sucesso fenomenal, até influenciou um pouco o vocabulário: durante as décadas passadas a palavra russa datcha, que significa uma pequena propriedade rural que muitas famílias têm, passou a ser chamada de fazenda, a palavra que a língua russa incorporou por causa da telenovela brasileira".

De acordo com Gurevich, atualmente quatro universidades russas ensinam a língua portuguesa como língua de proficiência. "Há interesse por parte dos alunos e há certo interesse pelo português no mercado de trabalho".

As atividades foram organizadas pelo GT Gramáticas: História, descrição e discurso, com coordenação da professora Marli Quadros, do Departamento de Letras, Clássicas e Vernáculas (DLCV) da FFLCH, e apoio do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa do DLCV.