Palestra expõe resultados de estudo sobre o compartilhamento de recursos hídricos na bacia do Prata

No dia 20, Luis Paulo Batista da Silva apresenta sua pesquisa de pós-doutorado, realizada no Departamento de Geografia, sob supervisão do professor Wagner Costa Ribeiro

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

 

ponte da Amizade sob o Rio Paraná
Abertura na antiga grade que protegia a ponte da Amizade, sobre o rio Paraná, que liga as cidades de Foz do Iguaçu (Paraná-Brasil) e Ciudad del Este (Alto Parana-Paraguai). Estes buracos eram usados para arremessar contrabando para o rio, onde eram recolhidas por barqueiros. Hoje, estas grades foram substituídas - Foto: Arquivo Pessoal


O compartilhamento de recursos hídricos entre Estados nacionais é um tema de grande relevância na pauta ambientalista e geopolítica da atualidade. E, por isso, tem sido abordado e analisado em diversos campos do conhecimento, entre eles, as Relações Internacionais, o Direito Internacional, a Geografia e a Ecologia Política.

No dia 20 de agosto, às 18h, será realizada uma palestra para apresentar os resultados de uma pesquisa sobre o assunto, desenvolvida por Luis Paulo Batista da Silva, com o título Territórios e escalas geográficas no compartilhamento de recursos hídricos: o estudo da bacia transfronteiriça do Prata, em seu pós-doutorado no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob a supervisão do professor Wagner Costa Ribeiro. 

“É estimado que cerca de 40% da população mundial seja abastecida e 40% da superfície terrestre esteja situada em bacias hidrográficas compartilhadas por um ou mais países. No total, são 286 bacias hidrográficas que se encontram nesta situação, contendo porções do território de 151 países. Estima-se também que, cerca de 60% da água superficial do planeta é compartilhada entre dois ou mais países”, aponta Silva, baseado em dados das Nações Unidas.

Na palestra, o pesquisador pretende abordar a questão do compartilhamento de recursos hídricos a partir dos conceitos de território e escala, muito utilizados na geografia política, que foram escolhidos por causa da importância nos debates sobre os diferentes modelos de governança dos recursos hídricos, assim como as formas de construir políticas de cooperação e/ou conflito entre Estados nacionais.

A análise dos dois conceitos ocorrerá por meio de casos em bacias hidrográficas transfronteiriças na América do Sul. No geral, esta região apresenta um cenário de abundância relativa no contexto de distribuição da água no globo. Porém, mesmo com esta abundância, a região não deixa de ter disputas envolvendo este recurso hídrico.

“Casos de disputas sobre alocação e qualidade da água, assim como iniciativas de cooperação para projetos de infraestrutura e de governança compartilhada criaram uma realidade de intensas interações políticas em torno das águas superficiais sul-americanas. Consideramos que, a partir da análise proposta por meio dos conceitos de territórios e escalas podemos contribuir com a evolução do conhecimento sobre a realidade da América do Sul, assim como identificar o papel da geografia política neste debate”, destaca o pesquisador.   
 

Captação de água para a cidade de Corumbá (MS)
Captação de água para a cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, situada às margens do rio Paraguai e próximo ao limite territorial com a Bolívia. Esta captação de água dificulta a navegação de barcaças com cargas que estão saindo do canal Tamengo e acessando o rio Paraguai, assim, levando carga boliviana para exportação por meio da hidrovia Paraná-Paraguai - Foto: Arquivo Pessoal

 
Do Pantanal à bacia do Prata 

Luis Paulo Batista da Silva tem graduação, mestrado e doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com estágio sanduíche na University of East Anglia, Reino Unido. Ele é pesquisador do Grupo de Geografia Política e do Grupo Retis, respectivamente, da USP e da UFRJ.

Tem experiência na área de Geografia Politica, Geografia Econômica e Geografia Ambiental. E atua principalmente nos seguintes temas: zona de fronteira, interações transfronteiriças, compartilhamento de recursos hídricos, bacias hidrográficas transfronteiriças e América do Sul; os quais são estudados por ele desde o período da sua graduação. 

A pesquisa realizada em seu pós-doutorado foi iniciada a partir da questão: “Como comunidades separadas pelo limite internacional compartilham as águas transfronteiriças?”. Silva explica que a investigação iniciou-se analisando o compartilhamento pelo Brasil, Bolívia e Paraguai das águas que drenam para a planície pantaneira. 

Mas, como essas águas do Pantanal fazem parte de um sistema hidrográfico muito mais extenso, o da bacia do Prata – que compreende, além dos três países já indicados anteriormente, a Argentina e o Uruguai – foi necessário estudar toda esta grande área.

Enquanto que a qualidade e disponibilidade das águas do Pantanal é afetada pela produção agrícola feita a centenas de quilômetros de distância, as águas da bacia do Prata são usadas para o desenvolvimento industrial, a produção de energia e o abastecimento de grandes cidades. 

“Por este motivo, os territórios e as escalas produzidas para a governança dos recursos hídricos compartilhadas têm efeitos nos locais fronteiriços que dependem desta água, assim como para as relações políticas entre os países fronteiriços”, explica o pesquisador sobre a relação da água com questões ambientais e políticas também.

A palestra é gratuita e aberta ao público em geral, sem necessidade de inscrição prévia. A apresentação ocorrerá na sala de vídeo do Departamento de Geografia, localizado no Edifício Eurípedes Simões de Paula (Geografia e História), na Av. Prof. Lineu Prestes, 338 - Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações com o pesquisador: luis_paulo_silva@usp.br 

Pós-doutorado na FFLCH 

O pós-doutorado da USP é um programa de aprimoramento em pesquisa avançada sob a supervisão de pesquisador experiente, realizado nas Unidades, Museus, Órgãos de Integração e Órgãos Complementares, por aqueles que têm título de doutor, com o objetivo de melhorar o nível de excelência científica e tecnológica da Universidade.  

A FFLCH é a Unidade da USP que possui o maior número de pós-doutorandos. A Faculdade possui 226 pós-doutorandos ativos. Na Universidade, atualmente, há 2.384 pós-doutorandos. Sendo assim, a Faculdade representa quase 10% do total destes pesquisadores na Universidade.