Doutoranda em História Social vai apresentar pesquisa em workshop de universidade alemã

O trabalho de Helena Wakim Moreno é o único realizado fora da Europa ou dos Estados Unidos que foi aprovado para o workshop Internationalism in the (Long) Twentieth Century, da Freie Universität Berlin

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria

 

Casa dos Estudantes do Império
Imagem da Casa dos Estudantes do Império que faz parte da pesquisa da doutoranda Helena Wakim Moreno. “De certo modo, o estudo analisa o sentido inverso das relações coloniais, ao investigar as maneiras como indivíduos oriundos do espaço colonial transformam a paisagem política e social na metrópole”, explica sobre sua pesquisa – Foto: Observatório da África

 

A pesquisa da doutoranda Helena Wakim Moreno, do programa de pós-graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, foi selecionada para ser apresentada no workshop Internationalism in the (Long) Twentieth Century.

O workshop é sobre internacionalismo no século XX e irá abordar os temas internacionalismo, conexões transnacionais, redes de solidariedades, ativismo anticolonial, entre outros, e é promovido pela Freie Universität Berlin, Alemanha. Inicialmente, estava programado para acontecer entre os dias 21 e 23 de outubro, em Berlim. A data de realização permanece mas, por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), passou para o formato virtual. 

O trabalho de Helena será apresentado no eixo temático anticolonialismo. “Penso que a escolha não poderia ter sido melhor, visto que este é um dos temas centrais na minha pesquisa: itinerância de ideias e construção de redes de apoio nas lutas anticoloniais vistas a partir da agência dos intelectuais mediadores e ativistas africanos”, destaca a doutoranda.

O conteúdo do paper submetido integra a pesquisa de doutorado em andamento intitulada Intelectuais de Angola na Casa dos Estudantes do Império: itinerâncias, mediações e redes de apoio (Lisboa, 1944-1965), com orientação da professora do Departamento de História Leila Leite Hernandez, desenvolvida com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) regular no país - além de estágios de pesquisa: sob o amparo da Fundação Calouste Gulbenkian (2016-2017) e da Cátedra Jaime Cortesão/Instituto Camões (2017-2018) - e bolsa de doutorado sanduíche-Capes (PDSE) para o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Portugal (2018-2019), sob supervisão da professora Olga Iglésias Neves. 


“Trata de uma associação de assistência estudantil, a Casa dos Estudantes do Império (CEI), criada com o apoio do Estado Novo português com o intuito de servir de espaço de apoio para estudantes provenientes do espaço colonial português, que migravam para a metrópole com o fito de realizar os seus estudos universitários, uma vez que Portugal era a única potência colonial que após o fim da Segunda Guerra Mundial ainda não contava com universidades nas suas colônias. O interesse do regime salazarista em apoiar esta iniciativa era que estes jovens membros de famílias das elites políticas e culturais dos seus locais de origem, servissem de correia de transmissão dos valores do Estado Novo quando regressassem à sua terra natal. Entretanto, desde os seus primeiros anos, os sócios mais ativos da CEI passaram a dialogar, em diferentes proporções, com ideias e movimentos políticos de oposição ao regime de Antônio Salazar em Portugal, e, a partir de meados da década de 1950, com ideias anticoloniais e movimentos de libertação dos seus territórios de origem. Os mais influenciados pelas trocas e dinâmicas na CEI foram os sócios de Angola, de onde vieram alguns dos membros mais destacados e ativos da associação”, explica a pesquisadora.

 

Helena Wakim Moreno - doutoranda em História Social
A doutoranda Helena Wakim Moreno, que possui graduação em História e mestrado em História Econômica, todos pela FFLCH USP - Foto: Acervo Pessoal

​​​​​​​
Processo seletivo

O processo seletivo para participar do evento foi bem disputado. Todo o processo foi em inglês. Inicialmente, Helena submeteu um resumo da sua proposta de trabalho e o seu currículo. Depois, recebeu a carta de aprovação pedindo a confirmação do seu interesse – porque, segundo os organizadores, o número de candidaturas para o evento havia sido bastante superior às 20 vagas e havia uma lista de espera. 

A próxima etapa foi o envio de um paper que ressaltasse as dimensões do internacionalismo nos trabalhos. “No meu caso, ressaltei como as redes transnacionais criadas via de regra a partir da Casa dos Estudantes do Império foram condição indispensável para a construção de ativismos em fóruns internacionais, com o fito de denunciar as inúmeras violações aos direitos humanos cometidas pelo colonialismo português em África, driblando assim as barreiras da censura salazarista”, comenta Helena.  

E, após a submissão dos papers, passaram para a etapa de leitura e apreciação escrita dos trabalhos dos colegas, além de trocas em fóruns fechados criados pela organização do evento com o intuito de dar organicidade aos contatos neste período de isolamento. 

Além disso, após receber a programação final do evento, Helena notou que sua pesquisa foi a única realizada em uma universidade fora da Europa ou dos Estados Unidos que foi aprovada para ser apresentada no evento. A pesquisadora já participou de outros eventos internacionais antes, mas esta será a primeira vez que vai apresentar a sua pesquisa em um evento fora de um país de língua oficial portuguesa. 

Nos últimos anos, ela participou de eventos internacionais no Brasil e também apresentou a pesquisa em dois eventos internacionais em Portugal: na conferência internacional Amílcar Cabral: O “Combatente Anónimo” pelos Direitos Fundamentais da Humanidade, em 2018, e na IV CHAM Conference – Innovation, Invention and Memory in Africa, em 2019. Neste segundo evento, em parceria com uma colega da Universidade Nova de Lisboa, a doutoranda Noemi Alfieri, Helena foi responsável pela organização e coordenação do painel Reconfiguring identities in a changing world: press, journals and books since the 1950’s

Helena, além de estudante na pós-graduação da FFLCH, é professora do curso de Licenciatura em História do Centro Universitário Sumaré, onde atua como professora de História da África, orientadora de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Licenciatura em História e também da Licenciatura em Geografia. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Moderna e Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: História da África; História de Angola; Colonialismo; Intelectuais; Resistências; Movimentos Anticoloniais; Construção de Redes; Conexões Transnacionais; Itinerâncias de pessoas, ideias e impressos; Exílios e clandestinidade.

​​​​​​​Os painéis são fechados aos participantes e têm mesmo o formato de grupos de trabalho, com debates, apreciações em formato escrito dos trabalhos dos doutorandos, entre outros. Já as palestras de abertura e encerramento do evento (realizadas em inglês) são abertas ao público, mediante a inscrição no e-mail internationalism2020@gmail.com, com o assunto: Opening keynote - Clique aqui para conferir a programação.