Nascimento de Pierre Bourdieu

Bourdieu é considerado um dos cientistas mais importantes da segunda metade do século 20

Por
Pedro Fuini
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Pierre Bourdieu
"A pesquisa em moldes bourdieusianos continua provocativa e fértil ainda hoje", afirma Fábio Ribeiro (Arte: Pedro Fuini)

Em 1º de agosto de 1930 nasceu o sociólogo, antropólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu, considerado um dos grandes cientistas da segunda metade do século 20. Ele é famoso por sua abordagem teórica conhecida como "teoria da prática", voltada à revelar as hierarquias, estruturas e relações sociais que operam além da consciência das pessoas e das regras explícitas das instituições e sociedades. 

Uma das primeiras pesquisas que Bourdieu conduziu foi uma etnografia na sociedade Cabila, na Argélia, na qual aplicou conceitos formulados a partir da síntese entre o estruturalismo de Lévi-Strauss e a fenomenologia de Merleau-Ponty. “Tal pesquisa de campo o transformou em uma referência importante da sociologia”, segundo Sérgio Miguel Franco, doutor em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A dimensão da influência do autor é algo destacado por Fábio Ribeiro, também doutor em Sociologia pela FFLCH. Ele aponta que as ideias de Bourdieu possuem notável plasticidade, encontrando aplicações em áreas bastante distantes como administração de empresas, nutrição, enfermagem e educação física. “O próprio Bourdieu tinha perfeita clareza de que, como seus conceitos surgiram da prática, isso significava que eles jamais poderiam ser considerados "escritos em pedra", e as novas realidades diante das sucessivas gerações de estudantes exigem que eles sejam continuamente reformulados e melhorados, de modo que a pesquisa em moldes bourdieusianos continua provocativa e fértil ainda hoje”, explica.

Já Franco, em sua tese de doutorado, buscou investigar a inserção do fenômeno da pixação no campo da arte, lançando mão dos conceitos bourdieusianos.
 
Habitus, campo e capital

Bourdieu elaborou uma série de conceitos que resultaram num arcabouço teórico altamente original, de acordo com Ribeiro. “Bourdieu é conhecido principalmente por sua tríade central de conceitos (ou ‘ferramentas de pensar’, como ele dizia): habitus, campo e capital”. Esses são conceitos interdependentes que se aplicados separadamente em uma análise podem gerar distorções. 

O habitus pode ser entendido como nosso repertório, nosso gosto pessoal, sendo resultado da educação que recebemos ao longo da vida, dos campos em que estamos inseridos e do capital que possuímos. 

O campo é um espaço simbólico (religião, ciência, política, educação, arte, direito etc.) em que os indivíduos nele envolvidos "se relacionam, competem e cooperam através de suas estratégias, capitais e disposições privilegiadas por seus habitus para alterar suas posições dentro do campo mas também para alterar as definições e fronteiras do próprio campo, num processo relacional que sempre ocorre em vários níveis", explica Ribeiro.

Já o capital consiste nos ativos de que dispõem os agentes e que são mobilizados nas disputas dentro do campo, estruturando as hierarquias de relações e posições ali presentes. Bourdieu define três tipos principais de capital: econômico, cultural e social. 

Confira na íntegra as entrevistas com os pesquisadores.

Entrevista com Fábio Ribeiro

Entrevista com Sérgio Miguel Franco

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Fábio Ribeiro é pós-doutorando em Sociologia na FFLCH, pela qual também é mestre e doutor. É professor substituto de Sociologia no IFCS-UFRJ, e atua há vários anos pesquisando a obra de Pierre Bourdieu, de quem também é tradutor.

Sérgio Miguel Franco é graduado em Ciências Sociais pela FFLCH e mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.  Atualmente realiza o doutorado sob orientação de Sérgio Miceli no Departamento de Sociologia da FFLCH. Também atua como curador e produtor cultural.