Lorena Barberia recebe Prêmio Mulheres na Ciência – Destaques 2020

A docente do Departamento de Ciência Política foi uma das 10 pesquisadoras da USP premiadas por se destacarem no ano passado com trabalhos relacionados ao combate da pandemia da Covid-19

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria

 

professora Lorena Barberia
"Sempre tenho defendido que as ciências sociais e humanas também podem ser parte da linha de frente do enfrentamento da pandemia. Em nosso grupo de pesquisa, somos todos pesquisadores da ciência política, treinados em avaliação de políticas públicas, métodos quantitativos, e em entender que a política e as instituições são fatores determinantes dos processos sociais", frisa Lorena - Foto: Léo Ramos Chaves / Revista Fapesp

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8 de março foi o Dia Internacional da Mulher e para marcar a data diversos eventos on-line foram organizados na USP. Um destes foi a Jornada Mulheres na Ciência, realizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa, em parceria com o Escritório de Carreiras. 

​​​​​​​No evento, houve a premiação de 10 cientistas da USP que se destacaram por pesquisas relacionadas ao combate do novo coronavírus (covid-19) no ano passado. A professora Lorena Guadalupe Barberia, do Departamento de Ciência Polítcia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP foi uma das cientistas que receberam o Prêmio Mulheres na Ciência – Destaques 2020.

A professora da FFLCH liderou o estudo que avaliou os riscos políticos e institucionais do Brasil causados pela crise promovida pela pandemia de Covid-19. Ela é uma das pesquisadoras do Observatório Covid-19 BR e coordenadora da Rede de Pesquisa Solidária. 

"Vejo este prêmio como um reconhecimento a todos os pesquisadores das ciências sociais que participam e trabalham para o enfrentar a pandemia. Somos muitos e estamos inseridos em grupos multidisciplinares como a Rede de Pesquisa Solidaria e o Observatório COVID-19 Br. Para mim, estar entre as 10 pesquisadoras agraciadas é uma grande honra, e me da uma esperança que na USP há uma enorme respeito por nossa contribuição", destaca Lorena.

Em seu discurso de agradecimento pelo prêmio, a docente da FFLCH fez questão de mencionar os nomes e histórias de 9 mulheres que perderam suas vidas durante a pandemia e uma sobrevivente, pois "acredito que cada uma dessas vidas perdidas que escolhi fala algo muito importante". 

Citamos algumas aqui: Cleonice Gonçalves, 63 anos, negra, empregada doméstica, hipertensa e diabética, que foi a primeira morte por Covid-19 registrada no País; Édila Aparecida da Silva, funcionária do Instituto de Psicologia da USP;  e Angelita Gama, que é sobrevivente, pioneira por ter sido a primeira mulher residente de cirurgia do Hospital das Clínicas (HC). Clique aqui para assistir à fala da professora no evento Jornada Mulheres na Ciência. 
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Entre as premiadas, a professora Lorena é a única que não é da área Biológicas e Saúde, pois as nove cientistas são de Unidades de Ensino e Pesquisa da USP relacionadas às essas áreas: Anna Sara Shafferman Levin (FM), Ester Sabino (FM), Marisa Dolhnikoff (FM), Ludhmila Abrahão Hajjar (FM), Thais Mauad (FM), Lúcia Helena Faccioli (FCFRP), Maria Rita Passos-Bueno (IB), Regina Markus (IB), e Larissa Dias Cunha (FMRP).

"Para enfrentar a pandemia, as Ciências Sociais têm muitas ferramentas que podem auxiliar as autoridades tanto no desenho de intervenções para frenar a transmissão viral e seus efeitos, como para identificar quais medidas podem ser mais eficazes. A pandemia demanda uma frente nas Ciências Sociais em todos os países, mas especialmente em países em desenvolvimento. Cada área precisa contribuir para enfrentar esta ameaça a todos nós", comentou Lorena no início de abril de 2020, em texto referente aos seminários virtuais que ela estava promovendo na FFLCH sobre Covid-19 desde o final de março.

Rede de Pesquisa Solidária 

Ainda em abril, a professora anunciou a criação da Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, da qual é coordenadora científica. A Rede é uma iniciativa de mais de 70 pesquisadores com o intuito de calibrar o foco e aperfeiçoar a qualidade das políticas públicas dos governos federal, estaduais e municipais que procuram atuar em meio à crise de Covid-19 para salvar vidas. 

O alvo é melhorar o debate e o trabalho de gestores públicos, autoridades, congressistas, imprensa, comunidade acadêmica e empresários, todos preocupados com as ações concretas que têm impacto na vida da população. Trabalhando na intersecção das Humanidades com as áreas de Exatas e Biológicas, trata-se de uma rede multidisciplinar e multi-institucional que está em contato com centros de excelência no exterior, como as Universidades de Oxford e Chicago. 

A divulgação dos resultados das atividades está sendo feita semanalmente através de um boletim, desde o dia 10 de abril, que já está no nº 27. Outros dois docentes da FFLCH também estão no comitê de coordenação: Glauco Arbix, do Departamento de Sociologia, e João Paulo Veiga, do Departamento de Ciência Política; além de outros integrantes da Faculdade nas pesquisas dos projetos.

prêmio Mulheres na Ciência - Destaques 2020
A docente da FFLCH foi uma das 10 cientistas premiadas no evento Jornada Mulheres na Ciência


Além das iniciativas já destacadas, a professora junto com seu grupo de pesquisa ministrou um curso aberto virtual sobre a pós-pandemia e, também, foi presença constante nos veículos de comunicação, seja concedendo entrevistas ou em artigos comentando sobre os resultados e a situação da pandemia. E, ao ser perguntada sobre o aprendizado obtido, tanto intelectual quanto pessoal, após um ano envolvida com pesquisas relacionadas à Covid-19, Lorena responde que há inúmeros, mas que citaria dois exemplos:
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"1) Há enormes desafios especialmente porque estamos procurando produzir pesquisas na velocidade da pandemia. Porém, o caminho da ciência é longo e coletivo. Pelas vidas em jogo, temos procurado agilizar esse processo sempre procurando respeitar as melhoras práticas científicas. Então, temos aprendido muito de como trabalhar de uma forma mais dinâmica; 
2) Como nossas pesquisas estão voltadas para avaliar a resposta dos governos à pandemia, cobramos dados e transparência, e muitas vezes produzimos pesquisas que responsabilizam os governos por mostrar como determinadas políticas influenciam os resultados que observamos. Nosso trabalho está voltado a contribuir para “Políticas públicas baseadas em evidências com rigor e robustez” Na pandemia, temos aprendido muito dos desafios disso, porque muitas vezes temos que estar preparados para um debate que está voltado sobre “Políticas públicas baseadas em evidências, dependendo das evidências".

 

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Na FFLCH, Lorena Barberia ministra disciplinas de métodos quantitativos, política comparada e economia política no curso de graduação em Ciências Sociais e no programa de pós-graduação em Ciência Política - Foto: Cecília Bastos / USP Imagens 

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Lorena é docente da FFLCH desde 2011, onde ministra disciplinas de métodos quantitativos, política comparada e economia política no curso de graduação em Ciências Sociais e no Programa de pós-graduação em Ciência Política. É pesquisadora principal do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais (NECI) da FFLCH-USP e pesquisadora principal do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (CEPESP) da Fundação Getúlio Vargas-São Paulo. 

​​​​​​​A partir de 2015, tornou-se coordenadora da IPSA-USP Summer School, uma Escola de Verão em Conceitos, Métodos e Técnicas em Ciências Políticas e Relações, realizado anualmente no Brasil – sendo uma parceria entre a International Political Science Association, o Instituto de Relações Internacionais (IRI) e a FFLCH. 

É graduada em Economia e Espanhol pela University of California, Berkeley; mestra em Políticas Públicas pela John F. Kennedy School of Government da Harvard University - ambas nos Estados Unidos; e doutora em Administração Publica e Governo pela pela Fundação Getúlio Vargas. Trabalhou no Equador e Panamá como economista junior e em projetos de pesquisa sobre as economias em transição no Harvard Institute for International Development. De 2001 até abril de 2011, foi Program Associate no David Rockefeller Center for Latin American Studies (DRCLAS) da Harvard University.