Nota de pesar pelo falecimento do professor Alfredo Bosi

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Redação
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A Diretoria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, consternada, torna público o falecimento de um de seus mais importantes mestres, o Professor Emérito Alfredo Bosi. O professor iniciou sua carreira na Universidade de São Paulo, em 1959, como assistente de Literatura Italiana. Em 1971, transferiu-se para o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, assumindo a disciplina de Literatura Brasileira, da qual viria a ser Professor Titular em 1985. Autor de uma vasta obra, o professor Bosi foi agraciado com dois prêmios Jabuti (Dialética da Colonização e Machado de Assis. O Enigma do Olhar). Em 1996, foi condecorado com a Ordem do Rio Branco e, em 2005, com a Ordem do Mérito Cultural, tendo sido eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2003. No plano acadêmico, formou inúmeros alunos que hoje atuam no magistério superior. No plano político, o professor foi um militante dos direitos humanos, tendo atuado na Comissão de Justiça e Paz e no Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Enfim, a perda do professor é absolutamente inestimável para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, que enlutada se solidariza com os familiares, ex-alunos e todos os colegas.

Diretoria FFLCH

 

ALFREDO BOSI (1936-2021)

Alfredo Bosi é o mestre amado de muitas gerações de estudantes que passaram pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Ensinando inicialmente literatura italiana e, desde os anos 1970, literatura brasileira, cumpriu como poucos, e talvez como ninguém, o desígnio integrador das humanidades prometido por essa instituição. Sua relação com a literatura, funda e de grande amplitude, era solidamente modulada pelas contribuições da história, da sociologia, da antropologia, da psicologia e da filosofia. Muito mais que o resultado de uma acumulação erudita de diferentes áreas do conhecimento, essas vertentes confluíam nele para uma compreensão complexa do mundo, generosamente compartilhada, sempre, com lúcida limpidez.

Convencido de que a Universidade converte-se numa ilha de ilusão, quando fechada em si mesma, entregou-se à prática da educação popular e à reflexão sobre os caminhos e descaminhos da educação brasileira. Lutou em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, contra os esquecimentos impostos pela ditadura cívico-militar, contra a voracidade capitalista e a redução dos horizontes da vida, pela transformação histórica da condição humana.

Sua atenção esteve sempre voltada, tanto no modo de ler literatura como no de se relacionar com os outros, para a dimensão singular da pessoa. A discreta compaixão, a firme solidariedade e a imensurável amizade são marcas da sua passagem. Um humanista democrático e de formação totalizante, como os tempos não produzem mais, empenhou o coração em tudo que fez, e deixa um legado imenso para todos os que vivemos na contracorrente desses tempos difíceis. 

Em meu nome e de todos os colegas da área de Literatura Brasileira,
                                                         José Miguel Wisnik

(texto com a formatação original)

Área de Literatura Brasileira, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

 

O Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada junta-se à área de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH para anunciar, com imenso pesar, o falecimento do Prof. Alfredo Bosi, professor emérito de nossa Faculdade e um dos intelectuais mais importantes de nosso país. Sua vida foi marcada pela dedicação à docência, à literatura e à luta por um Brasil mais justo. Nesses tempos tão difíceis, o Prof. Bosi nos lega um exemplo de integridade, generosidade e resistência, e a certeza de que suas obras, que marcaram gerações de leitores e professores, permanecerão como modelos de inteligência e sensibilidade crítica. Nossos sentimentos à família, em especial à Profa Viviana Bosi, nossa colega de Departamento. 

Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada

 

Temos o triste dever de informar o falecimento do professor Alfredo Bosi, docente da área de Literatura Brasileira  e mestre de muitas literaturas, pessoa gentil e generosa. À Viviana Bosi, querida colega, e a toda sua família, expressamos nossos sentimentos de pesar.

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

 

A MEU MESTRE, ALFREDO BOSI

Certa feita, há muitos anos, ao assistir a uma conferência do cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, prelado de insuspeitável idoneidade e de subida virtude, ouvi-o dizer que se sentia melhor na USP que na PUC, universidade da qual ele era o grão-chanceler. Isso porque, na PUC, consideravam-no “o patrão que paga mal” e, na nossa universidade, ele sempre fora mui bem acolhido, mormente por lá se encontrar o professor Alfredo Bosi, “um apóstolo da USP”, consoante suas palavras.

Com efeito, Alfredo Bosi atingiu o ideal de todo professor (se íntegro e honesto), que é o de ser, um dia, um mestre. Aquele instrui, este orienta. Aquele é um profissional que trabalha mediante pagamento, este, um profeta que se subtrai às injunções e à mesquinhez do quotidiano, iluminando os espíritos e oferecendo-lhes visões superiores da vida.

Humanista, mais que um crítico literário, soube fazer de sua vida algo inspirador e belo. Ele foi uma síntese da humanitas e da pietas, ideal acalentado pelos homens sábios de outrora. Viveu com fé e com poesia, conforme o que Tristão de Athayde escrevera: “A fé, como a poesia, são vitórias contínuas contra a perene mediocrização da vida. (...) Resistem à devastação do prosaísmo e do ceticismo”.

Eu era seu aluno na graduação e, uma semana antes do processo seletivo a que me submeti para ingressar como professor no DLCV, ele convidara-me a falar sobre a poesia tupi de Anchieta. Ao terminar a palestra que proferi, ele disse-me que a apreciara muito e que me tinha afeição porque vira que eu amava o que é clássico. Ele tornou-se, assim, meu amigo, pai e conselheiro. Nunca eu conhecera, em meio universitário, um homem tão nobre, que ensinava, com sua própria vida, que a bondade é o mais alto grau do saber.

Em certa ocasião ele me disse: “-Eduardo, após seu doutoramento, não se envolva com burocracia. Faça o bem pelos seus alunos e mantenha-se alheio ao corporativismo que aqui vige. Quase tudo aqui puxa para baixo”. E ele próprio foi um exemplo vivo de acato a tais ensinamentos, alguém que “sovra gli altri com’aquila vola” (Dante, Inf., IV). Ministrava suas lições inesquecíveis e, depois, volvia a seus misteres no IEA, alheio ao bulício de muitos dos que buscam a vida acadêmica somente como um emprego que, segundo creem, em nada difere de qualquer outro, sem terem eles pendor algum para o nobre ofício de ensinar.
Como um homem sábio, mudou o rumo que se quis dar à Área de Línguas Indígenas do Brasil, interferindo destemidamente na condução de sua linha de pesquisa, impedindo que caísse refém do Estruturalismo anti-humanista e tecnicista, inimigo da Filologia e da História. Um importante veio de estudos, fundamental para a compreensão do Brasil profundo, foi, assim, salvo do abandono.

Mestre querido, hoje Deus o chamou, porém o senhor continuará a viver neste mundo nos exemplos de vida que deixou e nos escritos belos que compôs, conforme o dito de Horácio em suas Odes: “Non omnis moriar.” Hoje Deus o chamou para viver Consigo e este será, certamente, o dia mais feliz de sua vida.

Professor Eduardo de Almeida Navarro, Departamento de Letras Modernas
 

A Área de Italiano junta-se às inúmeras manifestações de pesar pelo falecimento do professor Alfredo Bosi, professor emérito da nossa Faculdade, autor de uma obra imprescindível para a compreensão da literatura e da sociedade brasileira. O professor Bosi, descendente de italianos, iniciou sua carreira como italianista e agradecemos suas contribuições aos estudos de literatura italiana, que também alimentaram de forma decisiva a compreensão, a interpretação e o interesse por essa área de conhecimento. Lamentamos a perda de um professor que formou gerações de alunos, cujas manifestações de gratidão, admiração e afeto estão neste momento ocupando intensamente as redes sociais, e de um colega cuja generosidade e impecável gentileza serão sempre lembradas entre nós. Apresentamos nossos sentimentos à família e, em especial, à colega Viviana Bosi, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada.

Área de Italiano, Departamento de Letras Modernas

 

Em meu nome e como Presidente da AISPEB (Associazione Italiana di Studi Portoghesi e Brasiliani), que representa oficialmente todos os professores universitários das áreas linguísticas, literárias e culturais em estudos brasileiros na Itália, desejo manifestar o nosso pesar pela perda de uma figura de enorme importância não só para o Brasil e a USP - universidade com a qual muitos de nós mantemos relações de colaboração permanentes - como também para todos os estudiosos de cultura brasileira a nível internacional.

Pela relação especial que Alfredo Bosi sempre teve com a Itália, gostaríamos que, neste momento de profundo recolhimento, a Itália, os seus intelectuais e a sua cultura possam confirmar os laços que nos uniram e nos unem a São Paulo e a todo o Brasil.

Uma cordial saudação e as nossas sinceras condolências.
Sonia Netto Salomão, Professora Titular de Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira, Sapienza Università di Roma

Associazione Italiana di Studi Portoghesi e Brasiliani

 

O enterro do professor Alfredo Bosi ocorreu dia 07/04, às 17h, no Cemitério São Paulo, e foi restrito a familiares.