FFLCH tem 3 vencedoras do Prêmio Jabuti deste ano

Uma professora, uma aluna de pós-graduação e uma ex-aluna de graduação da Faculdade tiveram seus livros e projetos vencedores na premiação nas categorias Poesia, Ciências Humanas e Fomento à leitura

Por
Eliete Viana e Bruna Correia
Data de Publicação
Editoria

Os livros e projetos vencedores da 64ª edição do Prêmio Jabuti foram anunciados no dia 24 de novembro, em cerimônia no Teatro Municipal, na cidade de São Paulo.

Três vencedoras têm ou tiveram vínculo com a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP: Lilia Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia; Luiza Romão, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada; e Sylvia Guimarães, bacharel e licenciada em História pela tiveram seus livros e projetos como vencedores nas categorias Ciências Humanas, Poesia e Fomento à Leitura, respectivamente. E o livro de Luiza Romão também foi o grande vencedor da noite ganhando o prêmio de Livro do Ano. 

No dia 25 de outubro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que é a organizadora do Prêmio Jabuti, divulgou a lista com 10 finalistas em cada uma das 20 categorias. Na ocasião, 15 membros da Faculdade tiveram 17 indicações de livros e projetos entre os 10 finalistas (pois uma das pessoas foi indicada por três obras diferentes) nas seguintes categorias: conto, crônica; infantil; poesia; romance literário; biografia e reportagem; ciências humanas; tradução; fomento à leitura; e livro brasileiro publicado no exterior.

Depois, no dia 8 de novembro, foram divulgados os cinco finalistas em cada categoria, que contava ainda com 10 livros e projetos de pessoas que têm ou tiveram vínculo com a FFLCH.

Obras vencedoras 

O livro Também guardamos pedras aqui (Editora Nós), de Luiza Romão, foi vencedor na categoria poesia e também ganhou o prêmio de Livro do Ano. A narrativa tem a Guerra de Troia como objeto central, a partir do qual as opressões são mostradas ao leitor.
 

Luiza Romão e livro Também guardamos pedras aqui


A autora contou um pouco sobre o processo de inspiração e criação deste livro. Ela terminou de escrever uma primeira versão no final de 2019, no começo de 2020 foi para a Grécia e ficou 20 dias no país fazendo pesquisa de campo, visitando alguns museus arqueológicos e de história, visitando sítios arqueológicos, alguns santuários e ruínas. Ela volta para o Brasil com o livro quase completo e, após trocar impressões com amigos, faz alguns ajustes no manuscrito e o envia para a publicação, que foi feita no meio do ano passado. Porém, a ideia de escrevê-lo começou antes, na virada de 2016, 2017, quando ela leu a Ilíada, de Homero.

“Eu lembro da sensação de horror que eu fiquei depois de terminar o livro. É um livro muito violento, que você tem uma sucessão, um compilado de mortes e de formas de matar e de torturar, de dilacerar, enfim, formas de fazer o outro sofrer. É um livro que é um relato de uma saga do extermínio de um povo. E eu lembro que quando eu li, eu fiquei muito pensando nisso. E é essa a literatura, é essa narrativa que vai fundar a literatura ocidental. E essa foi uma questão que ficou convivendo comigo durante muito tempo”, recorda Luiza.

No ano de 2019, ela faz um curso de escrita, coordenado pelo escritor Marcelino Freire, e a partir disso ela começa a se debruçar mais na escritura desses poemas, pensando em fazer uma revisão crítica da Ilíada. 

“E pensando o tempo inteiro, como que essa violência está na fundação do ocidente, na fundação de certa noção de estética, de política, de poética, de direito, de democracia. E como essa violência se perpetua até os dias de hoje no Brasil contemporâneo, um país que passa por uma experiência brutal de barbárie, de colonização. Então eu vou pensando o tempo inteiro esse jogo entre a Grécia antiga e o Brasil contemporâneo. Pensando nessa violência. Cada poema do livro é escrito por uma personagem do clássico homérico. Então você tem poemas pra Ulisses, você tem um poema pra Agamenon, um para o Homero e também para algumas personagens que não estão de forma tão evidente, ou que não aparecem muito (...) mulheres que também passam pela experiência da guerra, mas que sobre elas a gente não tem muitos relatos ou muitos cantos na narrativa oficial”, explicou a autora.
 

Lilia Schwarcz e livro Enciclopédia negra


Em ciências humanas, a obra Enciclopédia negra (Companhia das Letras) foi vencedora, escrita por Lilia Schwarcz, juntamente com Flávio dos Santos Gomes, professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Jaime Lauriano, artista plástico. 

O livro aborda a história do Brasil, da colonização à atualidade, para reconstituir o protagonismo negro na sociedade brasileira.

"Trata-se de um projeto coletivo envolvendo mais de 100 pessoas — incluindo professores, artistas e instituições museológicas. O projeto visa tratar e realizar o difícil tema da reparação histórica e do direito à memória. Foram mais de oito anos entre escrita, encomenda das obras e realização do livro e das exposições. No projeto, procurei recuperar, visual e também a partir do livro, memórias de pessoas negras apagadas, borradas e silenciadas pela história", destacou a professora Lilia, respondendo, por e-mail, sobre o diferencial que acredita que o livro tem para ser o vencedor na categoria e o processo de escrita e inspiração.
 

Sylvia Guimarães - A ONG Vaga Lume


A ONG Vaga Lume, cuja presidente é Sylvia Guimarães, foi vencedora na categoria fomento à leitura, por iniciativa que leva bibliotecas para a Amazônia. 

64ª edição

Em 2022, a CBL recebeu mais de 4,2 mil inscrições na primeira etapa. Os vencedores em cada categoria ganharam R$ 5 mil e o ganhador do Livro do Ano ganhou R$ 100 mil também.

Confira aqui a lista completa dos premiados.