Nascimento de Honoré de Balzac

Autor de "O Pai Goriot", Balzac é um dos mais importantes expoentes do realismo

Por
Gabriela Ferrari Toquetti
Data de Publicação

De acordo com Barbara Martins Jacob, a descrição nos romances de Balzac “é tão detalhada que chegamos a sentir os cheiros de cada cômodo, a ver as cores das paredes”. (Arte: Gabriela Ferrari Toquetti)

Nascido em 20 de maio de 1799, Honoré de Balzac foi um dos mais célebres escritores franceses e um dos maiores expoentes do realismo. Em obras como O Pai Goriot e Ilusões Perdidas, explorou diversos temas, desde o dinheiro até o casamento. Os mais de 90 romances de Balzac foram agrupados sob o título de A Comédia Humana.
Embora sua literatura seja realista – como se pode notar por meio das descrições detalhadas e minuciosas que caracterizam seus romances –, Balzac aventurou-se, também, no gênero fantástico em seus Estudos Filosóficos.
O autor de A Mulher de Trinta Anos desempenhava um papel de “secretário da sociedade”, como afirma Barbara Martins Jacob, doutoranda em Língua e Literatura Francesa pela Université de Reims Champagne-Ardenne: ele pinta “o retrato de cada indivíduo dessa nossa sociedade atual, a sociedade em si e todos seus mecanismos de funcionamento. Ler um de seus romances escritos entre 1829 e 1850 nos surpreende pela sua atualidade. É por isso que Balzac é tão lido até hoje”. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Honoré de Balzac, que elementos caracterizam sua escrita e quais foram suas principais contribuições para a Literatura?

Barbara Martins Jacob: Honoré de Balzac (1799-1850) é um dos escritores franceses mais conhecidos até os dias de hoje, e fora do seu país de origem. A prova disso é que, em português do Brasil, quando chamamos uma mulher de “balzaquiana” (fora de contextos acadêmicos, numa conversa informal) queremos dizer que ela tem pelo menos trinta anos – como o romance do autor intitulado A Mulher de Trinta Anos. Se tentarmos fazer a mesma coisa em francês, eles só vão entender que estamos tentando caracterizar alguém que é especialista em Balzac, ou que gosta muito de ler suas obras. Claro que isso pode ser por conta do samba de Jorge Goulart, intitulado justamente “Balzaquiana”, mas não podemos evitar deixar escapar um sorriso pensando em quão longe foi esse autor que viveu toda sua vida endividado e que morreu apenas alguns meses depois de ter casado com a mulher que amou e cortejou durante vários anos.
Anedotas à parte, Balzac é conhecido por ser um dos grandes expoentes do realismo. Para quem já ousou abrir O Pai Goriot, a descrição da pensão Vauquer, que serve de cenário para todo o romance, é tão detalhada que chegamos a sentir os cheiros de cada cômodo, a ver as cores das paredes – de tão bem feito que é esse relato da “cor local”. Mas não é só a descrição física dos lugares e das personagens que faz a diferença na obra de Balzac; o dinheiro também é um tema recorrente em seus romances. Balzac soube descrever a paixão de um avaro para com o dinheiro (Eugénie Grandet), e a incapacidade de um jovem de gerenciar o dinheiro mandado pela sua irmã que vivia no interior para que seu irmão pudesse sobreviver em Paris (Ilusões Perdidas). Como Balzac sempre trocou cartas, desde cedo, com mulheres mais velhas – algumas das quais foram mais que correspondentes, mas amantes – ele também soube descrever a situação da mulher de maneira a mostrar para o mundo que da forma como funcionava o casamento, a falta de escolha e de liberdade da mulher, não estava dando certo, o que ele prova por A + B em A Fisiologia do Casamento.
Mas não é porque falamos de realismo, que devemos nos restringir a tudo que é real: Balzac inclui o fantástico em algumas de suas obras que fazem parte de seus Estudos Filosóficos, como O Elixir da Longa Vida, Seráfita e A Pele de Onagro. Nessa última, Raphaël se depara com uma pele de onagro que é mágica, pois quem a possui, tem todos os seus desejos atendidos – em troca de tempo de vida, pois, a cada desejo realizado, a pele perde alguns centímetros e Raphaël perde, aos poucos, sua força vital. Não seria o caso de Balzac com a sua carreira literária? Para escrever mais de 90 romances que foram reunidos sob o nome de A Comédia Humana, diz a lenda que Balzac bebia várias xícaras de café por dia (já se ouviu 16!). E tudo isso para cumprir a sua função de “secretário da sociedade”, como ele mesmo se designava, que pintaria o retrato de cada indivíduo dessa nossa sociedade atual, a sociedade em si e todos seus mecanismos de funcionamento. Ler um de seus romances escritos entre 1829 e 1850 nos surpreende pela sua atualidade. É por isso que Balzac é tão lido até hoje.

Barbara Martins Jacob é mestre pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e doutoranda em Língua e Literatura Francesa pela Université de Reims Champagne-Ardenne.