Nascimento de Robespierre

O líder dos jacobinos, que assumiu o poder no período mais radical da Revolução Francesa, é famoso por ter sido um dos governantes mais emblemáticos da história

Por
Lara Tannus
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Robespierre
“A radicalização do processo revolucionário, num contexto de conflito contra potências estrangeiras, de guerra civil e de recrudescimento do movimento popular urbano, conduziria às jornadas de 31 de maio-2 de junho de 1793, as quais levariam Robespierre a assumir o comando do governo”, explica Laurent de Saes. (Arte: Ricardo Freire)

Nascido em 6 de maio de 1758, Maximilien de Robespierre foi um dos mais emblemáticos personagens da Revolução Francesa, que mudou a Europa e o mundo com seus ideais de igualdade, liberdade e fraternidade.

Para entender o papel de Robespierre, é importante entender o contexto histórico da Revolução de 1789. Após a frente revolucionária derrubar o rei Luís XVI e colocar a burguesia no poder na França, as constantes ameaças externas abriram espaço para que medidas radicais fossem tomadas.

Uma fase de “terror” se estabeleceu na França e Robespierre, líder do partido jacobino, foi o protagonista de ações antidemocráticas, perseguindo e matando pessoas. Seu radicalismo o levou à guilhotina por seus inimigos.

Laurent de Saes, doutor em História Social pela FFLCH USP, nos explica em entrevista as principais características do líder revolucionário e alguns paralelos que podem ser feitos com outros regimes na história:

Serviço de Comunicação Social: Qual foi o papel fundamental de Robespierre na Revolução Francesa?

Laurent de Saes: Maximilien de Robespierre (1758-1794) é certamente um dos personagens mais emblemáticos da Revolução Francesa. É também um dos mais controvertidos, por ter assumido a liderança do governo revolucionário durante o seu período mais radical.

Advogado e excelente orador, aquele que era tido como “o Incorruptível” destacou-se primeiramente na condição de deputado da Assembleia Constituinte, como representante do clube dos Jacobinos e porta-voz de causas democráticas, tais como o sufrágio universal, os direitos de minorias e a abolição da pena de morte.

A radicalização do processo revolucionário, num contexto de conflito contra potências estrangeiras, de guerra civil e de recrudescimento do movimento popular urbano, conduziria às jornadas de 31 de maio-2 de junho de 1793, as quais levariam Robespierre a assumir o comando do governo.

No quadro do Comitê de Salvação Pública, o jacobino se notabilizou por instituir uma política de repressão às atividades ditas “contrarrevolucionárias”, mas também por pôr em prática um projeto social baseado na redistribuição de riquezas, na promoção da pequena propriedade e na direção da economia (atendendo, com isso, a uma das principais reivindicações das massas parisienses, o controle de preços).

O governo jacobino, que aboliu os direitos senhoriais no campo e a escravidão nas colônias, teve vida curta, sendo derrubado em 27 de julho de 1794 – Robespierre e seus aliados foram executados no dia seguinte – mas o programa econômico e social implantado durante os quase quatorze meses em que durou conferiu, em larga medida, ao processo revolucionário francês a sua particularidade.

Serviço de Comunicação Social: Sendo líder dos jacobinos, partido radical da Revolução, Robespierre implantou um regime de terror e opressão. Podemos relacionar isso ao regime de Stalin na Rússia, ou algum outro regime que tentou firmar um ideal revolucionário?

Laurent de Saes: Ao longo da história, Robespierre foi frequentemente comparado a outras lideranças políticas, especialmente no quadro de regimes autoritários de esquerda.

Tais equiparações se baseiam, grosso modo, em três aspectos: a centralização política, a repressão aos opositores e o amparo nas classes populares.

Não obstante, tais comparações, reduzindo-se a aspectos mais superficiais, tendem a negligenciar a especificidade do projeto político de cada um desses regimes, a qual só pode ser compreendida à luz de seu contexto histórico preciso.

O ideal social dos jacobinos era o de uma sociedade de pequenos produtores independentes, donos de suas plantações, oficinas e lojas, capazes de viver de seus próprios meios sem recorrer à venda de sua própria força de trabalho.

Isso implicava uma política de combate à concentração de riquezas e de democratização do acesso à terra. Mas tal programa não incluía, de modo algum, uma política de coletivização das terras e de estatização das manufaturas, como a verificada nos regimes soviéticos.

Por isso, as aproximações entre o governo jacobino de 1793-1794 e os regimes socialistas e comunistas do século XX não deve ser feita senão com muita cautela. Experiências semelhantes à do jacobinismo robespierrista podem, porém, ser encontradas em momentos específicos da história política ocidental.

Para assinalar um exemplo extraído da história do Brasil, podemos citar o programa político da segunda fase do Tenentismo, quando alcançaram o poder, entre 1930 e 1934. Durante aquele curto período, os tenentes advogaram pela reforma agrária, pela promoção da pequena indústria e pelo combate aos grandes trustes – uma postura que não deixa de evocar o projeto jacobino de fundar o poder estatal sobre uma nação de pequenos produtores.