Pesquisa mostra a importância da conservação ambiental em parques da cidade de São Paulo

O estudo enquadra-se na linha de pesquisa Paisagem e Planejamento Ambiental do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da FFLCH

Por
Eliana Bento
Data de Publicação

 

Em uma cidade grande como São Paulo, a conservação de parques vem se tornando cada vez mais importante para o bom funcionamento do ecossistema.   A geógrafa Patrícia do Prado Oliveira  analisou em sua pesquisa a semelhança entre alguns parques localizados no município de São Paulo e tentou estabelecer um diálogo entre as abordagens ecológica e geográfica da Ecologia da Paisagem, analisando também o processo de ocupação territorial das paisagens estudadas ao longo das cinco últimas décadas.

O estudo resultou na tese de doutorado Métricas da paisagem e perspectivas de conservação para Parques em situação de isolamento na cidade de São Paulo: O Parque Estadual Fontes do Ipiranga (PEFI), O Parque Estadual do Jaraguá (PEJ) e o Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo (PNMFC).

Na pesquisa, apresentada em novembro de 2017, sob orientação do professor Yuri Tavares Rocha, Patrícia tentou estabelecer um diálogo entre as abordagens ecológica e geográfica da Ecologia da Paisagem, analisando também o processo de ocupação territorial das paisagens estudadas ao longo das cinco últimas décadas.

Confira a seguir a entrevista com a pesquisadora:  

Serviço de Comunicação Social: Fale sobre o seu estudo, desenvolvido entre 2013 e 2017, no qual foi analisada a semelhança dos Parques estaduais Fonte do Ipiranga (PEFI), Jaraguá (PEJ) e o Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo (PNMFC).

Patrícia do Prado Oliveira: Este estudo discutiu como a estrutura da paisagem pode influenciar na conservação dos remanescentes florestais protegidos por Parques na cidade de São Paulo. Os escolhidos para o estudo foram: Parques estaduais Fontes do Ipiranga (PEFI) e do Jaraguá (PEJ) e o Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo (PNMFC),  se encontram em uma situação semelhante no município de São Paulo.

Esses Parques são unidades de conservação e proteção integral que possuem remanescentes florestais em áreas relativamente reduzidas e estão isolados em regiões da cidade densamente urbanizadas. Como unidades de conservação de proteção integral devem garantir o mínimo de interferência de atividades humanas.

Mas enfrentam grandes dificuldades em cumprir sua função de forma efetiva em áreas urbanizadas, havendo, desta forma, uma relação conflituosa entre urbanização e conservação. A fragmentação e o isolamento diminuem as possibilidades de fluxos gênicos das espécies de um com outros fragmentos e aumentam as áreas sujeitas ao efeito de borda, que estão submetidas a vários tipos de distúrbios e pressões.

Estudei a importância e as perspectivas de conservação de remanescentes florestais protegidos por unidades de conservação de proteção integral – os Parques, que estão em uma situação de isolamento em meio à urbanização no município de São Paulo produzindo dados sobre a condição ecológica desses fragmentos a partir da geração de métricas da paisagem que permitiram avaliar aspectos relacionados à conectividade, a influência do efeito de borda, tamanho, forma, dentre outros.

Serviço de Comunicação Social: Do seu ponto de vista, qual a importância das paisagens das bacias hidrográficas?

Patrícia do Prado Oliveira: São paisagens que ainda guardam um pouco da configuração natural na cidade de São Paulo. Todas as bacias hidrográficas estudadas apresentam problemáticas importantes para este trabalho: possuem fragmentos remanescentes de cobertura vegetal natural e/ou seminatural em seus territórios que estão em condição de isolamento, e que são protegidos em sua maioria por Parques, Unidades de conservação de proteção integral.

A bacia hidrográfica é um recorte espacial muito utilizado em avaliações ambientais, pode ser caracterizada como uma unidade geográfica, onde os recursos naturais se integram. Além disso, há algum tempo a rede de drenagem tem sido tratada como um elemento estruturador das políticas ambientais no município.
 
Serviço de Comunicação Social: Comente um pouco mais sobre sua trajetória com o Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto.

Patrícia do Prado Oliveira: Minha trajetória com o Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto tem sido autodidata desde a graduação. Ingressei em 2003 no curso de Bacharelado em Geografia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas em um momento em que as Geotecnologias começavam a ser difundidas.

Interessei-me pela Cartografia Ambiental já na graduação e durante o mestrado e doutorado pude aperfeiçoar as técnicas de mapeamento necessárias para o desenvolvimento das pesquisas.

A utilização das fotografias aéreas antigas neste trabalho permitiu a reconstituição da paisagem das bacias hidrográficas estudadas durante as ultimas décadas, e foi uma etapa de trabalho bastante trabalhosa, já que foram necessárias muitas fotografias para recompor essa paisagem pretérita das bacias hidrográficas.

A utilização de fotografias aéreas antigas é a única forma de fazer uma reconstituição da paisagem em uma escala de maior detalhe, já que os produtos do sensoriamento remoto eram escassos ou apresentavam pouca qualidade e resolução espacial há algumas décadas.

Serviço de Comunicação Social: E sobre os estudos que envolvem métricas da paisagem em áreas urbanas, o que você nos diz?

Patrícia do Prado Oliveira: Estudos que analisam a estrutura da paisagem a partir da geração de métricas da paisagem são comuns em áreas consideradas mais naturais, que apresentam menos interferência antrópica e uma matriz com menor complexidade.

Normalmente, áreas prioritárias para conservação possuem essas características e atraem mais atenção para estudos que avaliam a heterogeneidade da paisagem e a viabilidade da manutenção da diversidade biológica em longo prazo. Esta tese, no entanto, procurou explorar a aplicabilidade das métricas da paisagem em ambientes urbanizados, já que, esta ferramenta pode fornecer informações importantes sobre as condições ecológicas desses remanescentes florestais localizados em áreas urbanizadas.

O estado de São Paulo é um dos que mais concentra remanescentes da Mata Atlântica e são poucos os estudos que tratam do impacto que a urbanização e as atividades humanas têm nesses ambientes, daí a importância em se desenvolver mais pesquisas que tratem da estrutura da paisagem e seus aspectos ecológicos para a conservação.
 
 Serviço de Comunicação Social: Para buscar uma compreensão para o estudo, poderia nos explicar o que são Manchas?

Patrícia do Prado Oliveira: As manchas são os fragmentos de vegetação que restaram na paisagem, essa expressão vem do termo em inglês “patches que é bastante utilizado em estudos sobre Ecologia da Paisagem.

Segundo a teoria dos Mosaicos da Paisagem, a paisagem é composta por uma estrutura que pode ser observada pelos padrões e relações de distribuição entre os elementos espaciais, identificando-se três elementos básicos: matriz (elemento da paisagem que exerce influência, controla a dinâmica da paisagem, que ocupa normalmente mais de 50% de uma paisagem) manchas e corredores (que normalmente apresentam uma forma linear na paisagem que se diferenciam das áreas vizinhas e podem ligar fragmentos que no passado tinham conexão).
 
 Serviço de Comunicação Social: Próximo ao Parque Estadual do Jaraguá temos uma tribo Indígena, você fez alguma análise nessas terras?

Patrícia do Prado Oliveira: O estudo não tratava especificamente do modo de vida ou da presença de comunidades tradicionais em áreas naturais. Porém, a presença das tribos na região é um fato importante a se considerar quando se trata da conservação da vegetação, pois há uma sobreposição entre a unidade de conservação e a demarcação da terra indígena.

Esta sobreposição é uma das justificativas para o Governo do Estado de São Paulo ter entrado contra a presença dos índios nas terras indígenas, alegando que isso comprometeria a função de proteção integral do Parque Estadual do Jaraguá (PEJ). Porque poderia representar uma abertura para a consolidação da ocupação do entorno do Parque.

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Patrícia é Professora da Prefeitura Municipal de São Paulo e, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação, Biogeografia, Paisagem, Geografia Física e Planejamento Ambiental.

Confira imagens das áreas estudadas na pesquisa