Nascimento de Fernando Pessoa

Quais os principais fatores que o tornaram um dos maiores poetas da literatura ocidental?

Por
Lara Tannus
Data de Publicação

Fernando Pessoa
Pela sua capacidade de multiplicidade, Pessoa conclama: “Sê plural, como o universo!” (Arte: Renan Braz)

Em 13 de junho de 1888, nasce um dos maiores nomes da literatura portuguesa. Educado na África do Sul e escrevendo muitos de seus poemas em inglês, Fernando Pessoa tornou-se um poeta universal. Famoso por seus heterônimos, conseguiu explorar diferentes linguagens e visões de mundo, tendo inspirado outros escritores e sendo estudado até os dias de hoje. 

Gisele Batista Candido, doutora em filosofia pela FFLCH da USP, explica que o escritor é reconhecido por sua pluralidade que se manifesta em diversas formas em sua obra. Por essa característica, a doutora explica ser difícil determinar um legado determinante deixado por Pessoa, mas destaca dois importantes fatores, que são diretamente relacionados, pelos quais o escritor foi um dos grandes nomes da literatura universal. “Embora seja possível ressaltar muitos outros, são eles: a consciência de que a língua e a linguagem ocupam um lugar privilegiado na formação de nossa identidade e sociedade; e a sua criação da heteronímia”. 

Sobre o primeiro fator, Gisele explica que o escritor explorou de maneira intensa os diferentes tipos de linguagem criando um “mundo original” em sua obra por uma lógica própria através da linguagem. O segundo, o da criação da heteronímia, a doutora ressalta que o modo como se deu a criação do fenômeno do heteronismo é de se chamar a atenção. “Os três heterônimos que habitam o universo pessoano são indivíduos dotados de existência, personalidade, estilo e pensamento distintos, que criam seus poemas, enquanto simultaneamente são criados por sua própria produção”. 

Os heterônimos

Fernando Pessoa não foi o único escritor a usar o recurso da heteronímia, mas Gisele analisa que nenhum deles tenha se igualado ao heteronismo pessoano. “O processo de criação do fenômeno heteronímico de Pessoa envolveu uma despersonalização tão radical de sua própria personalidade e uma abertura ilimitada para vivências plurais, que essas experiências repercutiram de maneira decisiva na própria forma como o poeta vivenciou e pensou o mundo, a existência e o processo de criação.” 

Seus heterônimos tinham existência, personalidade e estilo bem distintos e autônomos. Dentre as 136 personalidades diferentes, destacam-se Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, além do ortônimo Fernando Pessoa, ele próprio. A doutora explica que embora sofram influências uns dos outros e haja diálogos entre si, com Pessoa e com outros habitantes dentro do universo pessoano, “é praticamente um consenso entre os seus estudiosos que não é possível falar de uma unidade na obra pessoana”.

O “desassossego”

“Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos – um poço fitando o céu.”, diz a passagem do Livro do Desassossego, uma das grandes obras de Fernando Pessoa, escrito pelo semi-heterônimo Bernardo Soares. 

Gisele mostrou em seu doutorado que o desassossego trata-se da existência de uma experiência que permeia todo o universo de Pessoa e diz ser “fruto dessas vivências diversas e ao mesmo tempo aquilo que as impulsiona”, ressaltando que o tema não deve nunca ser compreendido como algo unitário na obra de Pessoa. “Ao contrário, a incidência do desassossego é justamente aquilo que está no cerne da dispersão, discrepâncias, instabilidade e pluralidade características da produção desse autor”. 

A doutora ainda explica que “o desassossego desestabiliza qualquer certeza que sirva de apoio permanente, mas, na ausência de limites, o horizonte se mostra ilimitado para a pluralidade estimulada pela criação”.

Obras indicadas

Entre as grandes obras, quase todas publicadas postumamente, a doutora indica:

Mensagem;
Poesias completas de Ricardo Reis; 
Poesia Completa de Álvaro de Campos; 
O Livro do Desassossego; 
Poesias completas de Alberto Caeiro.