Autores mostram que as ramificações dos ódios contemporâneos têm raízes históricas profundas, racistas e colonialistas
No dia 7 de dezembro de 2024, das 15 às 18 horas, será lançada a coletânea Discursos de Ódio: O Racismo Reciclado nos Séculos XX e XXI, (Editora Perspectiva, 384 páginas), organizada pela professora Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Os discursos de ódio, tanto de grupos de extrema direita como da esquerda radical, têm se difundido no mundo globalizado via internet, inclusive no Brasil. Favorecidos pelas fragilidades das democracias, os membros dessas organizações negam a história do Holocausto, manipulam o conceito de genocídio e instigam o ódio a judeus, negros, ciganos, mulheres, LGBTQIA+, povos originários do Brasil, à ecologia e aos direitos humanos. Discursos de Ódio: O Racismo Reciclado nos Séculos XX e XXI traça em seus 14 ensaios como recursos retóricos e mídias “insuspeitas” (como os jogos de tabuleiro e eletrônicos e as charges) foram e são historicamente usados para propagar uma visão de mundo reacionária e intolerante frente a minorias sociais, em geral visando cativar principalmente os mais jovens.
O livro evidencia que a ausência de uma legislação específica aplicada às redes sociais, a existência de fóruns anônimos na internet e a desinformação sobre os procedimentos cabíveis nos casos de “crimes da palavra” praticados on-line incentivam as falas e práticas racistas, xenofóbicas, homofóbicas, misóginas e transfóbicas, e o quanto esse discurso, travestido de liberdade de expressão na era da internet e dos discursos da ONU, é na verdade um velho conhecido.
O recrudescimento dos discursos de ódio e do negacionismo propagados como conteúdo na internet assumiu tal proporção que cada instância de nossa sociedade é forçada a se haver com esse tema. Os poderes Judiciário e Legislativo, a academia e a imprensa debatem como conter esse tsunami.
Os ensaios de Discursos de Ódio: O Racismo Reciclado nos Séculos XX e XXI vão ainda além nessa discussão, ao mostrar como as ramificações dos ódios “contemporâneos” têm raízes históricas profundas, racistas e colonialistas. Sites supremacistas – protegidos pela “liberdade de expressão” – e videogames vinculados a Klu Klux Klan e a (neo)nazistas são apenas um exemplo disso e têm antecedentes em jogos de tabuleiro antissemitas e charges racistas. O humor, aliás, como o leitor poderá testemunhar no livro, tanto pode ser usado para combater desmandos como para difundir o ódio. Os alvos também são os de sempre: os negros, os judeus, as mulheres, os muçulmanos, os ciganos, os pobres, os LGBTQIA+.
O que há de novo realmente na difusão do ódio é a amplitude e capilaridade das redes sociais, controladas por bilionários inacessíveis e inimputáveis, transnacionais, que fornecem a usuários anônimos os meios para, no Brasil ou no exterior, destilar e reciclar seu veneno.
Organizadora
Maria Luiza Tucci Carneiro, romancista e historiadora do Departamento de História da FFLCH, coordenadora o Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER). Autora dos livros: Os Diabos de Ourém (2023); Impressos Subversivos: Arte e Cultura Política. Brasil, 1924-1964; Dez Mitos Sobre os Judeus; Cidadão do Mundo: O Brasil diante do Holocausto e dos Refugiados do Nazifascismo, 1933-1948 (2011); Preconceito Racial em Portugal e Brasil Colônia (3ed. 2005); O Antissemitismo na Era Vargas (3ed. 2001), dentre outros.
Autores
Carolina Sieja Bertin, graduada em Letras, mestre e doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo. Publicou Sob a Sombra de um Xale: Um Estudo Sobre a Estética de The Shawl (Novas Edições Acadêmicas, 2013). Atualmente, é professora da Beit Yaacov Escola, em São Paulo.
Elias Thomé Saliba, professor titular do Departamento de História da USP desde 1990, entre suas publicações destacam-se Raízes do Riso (Companhia das Letras) e Crocodilos, Satíricos e Humoristas Involuntários: Ensaios de História Cultural do Humor (Intermeios/USP, 2018).
Emerson César de Campos, professor Titular do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e do Mestrado Profissional em Ensino de História.
Jaqueline Martinho dos Santos, Bacharel, mestre e doutoranda no Programa de História Social da FFLCH. Seus estudos concentram-se em história e literatura, escravidão e abolição no Brasil, racismo e relações raciais na sociedade brasileira.
Leslie Marko, doutora pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (2016). Integra o Laboratório de Estudos de Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) e atua como docente na ESPM.
Juliana Lavejo, doutora em História pela USP (2018). Possui especialização em Ética, Valores e Cidadania na Escola pela USP (2014). É professora da rede pública de ensino e tem experiência nas áreas de história e educação, com foco em biografia, testemunho e Segunda Guerra Mundial.
Marina de Mello e Souza, professora do Departamento de História da USP. Autora dos livros Além do Visível: Poder, Catolicismo e Comércio no Congo e em Angola (Séculos XVI e XVII); África e Brasil Africano; Reis Negros no Brasil Escravista: História da Festa de Coroação de Rei Congo; e Paraty: A Cidade e as Festas.
Paulo Daniel Farah, professor da FFLCH e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (PPGHDL). Lidera o NAP Brasil África e o Grupo de Pesquisa “Temáticas, Narrativas e Representações Árabes, Africanas, Asiáticas e Sul-Americanas e de Comunidades Diaspóricas” (CNPq). Também coordena projetos no Instituto de Estudos Avançados (IEA) e em parceria com a ONU.
Robson Scarassati Bello, doutor em História Social pela USP. Suas pesquisas focam em videogames como representação histórica, com destaque para Assassin’s Creed, e na relação entre lúdico e memória em filmes e jogos sobre o Oeste Americano.
Christiane Stallaert, professora de estudos ibero-americanos, comunicação intercultural e tradução na Universidade de Antuérpia (Bélgica), e de Antropologia Social e Cultural na Universidade Católica de Leuven. As suas principais áreas de investigação são etnicidade e nacionalismo, sociedade multicultural e a interface entre antropologia e tradução. É autora de Not a Drop of Impure Blood: Inquisitorial Spain and Nazi Germany Face to Face (2006); Perpetuum Mobile: Entre a Balcanização e a Aldeia Global (2004); e Etnogénese e etnicidade em Espanha (1998).
Luis Roniger, sociólogo político, é Professor Emérito de Estudos Latino-Americanos, Política e Relações Internacionais na Wake Forest University, e Emérito de Sociologia e Estudos Latino-Americanos na Hebrew University. Sua pesquisa lida com a interface entre o estudo da política, esferas públicas e cultura, trabalhando em democratização comparativa; clientelismo; direitos humanos; exílio político; cidadania e populismo; política transnacional; teorias da conspiração.
O livro poderá ser adquirido no site da Editora Perspectiva
Com informações da Editora Perspectiva