Morar nas ruas de São Paulo na pandemia é tema de projetos coordenados por docente de Sociologia

Fraya Frehse esteve à frente do simpósio on-line UrbanSus - Morar nas Ruas de São Paulo durante a Pandemia de Covid-19: Vivências, Intervenções, Pesquisas; dirigiu o filme A Rua de Máscara; além de pesquisar sobre o tema

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Eliete Viana
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Professora Fraya durante a sessão 1 do simpósio
Professora Fraya durante a sessão 1 do simpósio UrbanSus - Morar nas Ruas de São Paulo durante a Pandemia de Covid-19: Vivências, Intervenções, Pesquisas - Reprodução YouTube


​​​​​​​Durante esta pandemia do novo coronavírus (Covid-19) falou-se muito sobre a saúde das pessoas, a economia do país e outras questões, mas pouco é falado sobre as pessoas em situação de rua. Não que o assunto tenha sido esquecido totalmente, mas talvez não foi debatido com a mesma intensidade que outras categorias na mídia, por exemplo.

Foi esta lacuna que o simpósio on-line UrbanSus - Morar nas Ruas de São Paulo durante a Pandemia de Covid-19: Vivências, Intervenções, Pesquisas pretendeu preencher, que teve o intuito de reunir olhares socialmente diversificados em torno de uma mesma questão. 

A atividade foi organizada pelo Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability da Technische Universität Berlin (GCSMUS-USP/TU Berlin) - do qual a professora Fraya Frehse, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é a coordenadora local - em colaboração com o Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

A atividade foi organizada pelo Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability da Technische Universität Berlin (GCSMUS-USP/TU Berlin) em colaboração com o Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA). A professora Fraya Frehse, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é a coordenadora local do GCSMUS-USP e pesquisadora do Programa "USP Cidades Globais" do IEA.

3 sessões 
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O evento foi realizado em três sessões, nos dias 10 e 26 de novembro e em 7 de dezembro. Com o tema Vivências, a sessão 1 abordou os dilemas e surpresas que abriga o cotidiano de homens, mulheres e famílias que passam seus dias e noites nas ruas de São Paulo durante a pandemia.

​​​​​​​Na sessão 2: Intervenções, foi mostrado como tem sido o cotidiano de quem se engaja profissionalmente em ações práticas de cuidado com a população em situação de rua na cidade de São Paulo em tempos de Covid-19. E, na sessão 3: Pesquisas, foi abordado como vem sendo feita a investigação científica sobre o morar nas ruas durante a pandemia.

Clique nos links abaixo para conferir cada sessão.
Sessão 1: Vivências 

Sessão 2: Intervenções 

Sessão 3: Pesquisas

Filme

Além destas discussões, foi produzido o filme A Rua de Máscara (São Paulo, 5 de novembro de 2020), que foi gravado na mesma data do subtítulo. A ideia de fazer o filme surgiu da vontade da professora Fraya de contar com relatos de pessoas em situação de rua na primeira sessão do simpósio.

Então, ela foi falar com o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da Rua, que deu a ideia de gravar com eles em forma de filme, pois assim eles se sentiriam mais à vontade do que falar em evento virtual na Universidade. O documento foi exibido na sessão Vivências, justamente para apresentar as experiências da população retratada no filme. 

Para a captação das imagens e entrevistas, a professora acompanhou a entrega de marmitas da Casa de Oração nas ruas e foi para a Praça da Armênia, o aluno de pós-graduação Marcus Repa fez a filmagem e edição, com a colaboração nesta segunda parte da também aluna de pós-graduação Anna Flávia Hartmann. 
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Em uma manhã de quinta-feira nas ruas do centro de São Paulo em 2020, o filme aborda como tem sido o dia a dia desses/as pedestres peculiares dos espaços públicos, para quem a rua é ou já foi casa? Os entrevistados: Franciellen, Mário e Vanessa conduzem, cada um/a, por alguns de seus espaços e tempos. 

Apesar de não ter roteiro prévio, Fraya tinha em mente os temas que queria abordar e pensava em três perfis sociais diversos nas ruas: uma mulher, um homem – que são mais numerosos nas ruas – e uma família. A ideia era “montar uma narrativa que conseguisse aproximar os espectadores das ruas e também mostrar o afastamento que as pessoas têm deles”, comenta a docente.

Vanessa teve acesso ao vídeo e a professora pediu para ela apresentar aos outros dois entrevistados também. Mas, Fraya quer fazer uma sessão para exibir o filme para eles de uma forma mais calma, o que ainda não foi possível por causa do aumento dos casos de Covid-19.

​​​​​​​Assista, a seguir, ao filme.​​​​​​​

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Mais visibilidade

Esta não foi a primeira vivência de Fraya em entrevistas com este público, pois ela tem experiência em mais de 1 ano e meio de entrevistas em cinco praças do centro de São Paulo. 

A docente do Departamento de Sociologia atua nas áreas de pesquisa de Sociologia da Cidade; Sociologia do Espaço (e do Corpo); Sociologia do Cotidiano; Sociologia Histórica. Os temas abordados são: teoria urbana; espaço, vida cotidiana e história; espaço e tempo na sociologia; corpo, espaço público e urbanização (no Brasil); mobilidade urbana; desigualdade/pobreza urbana; patrimônio cultural; cultura visual urbana; sociologia do conhecimento cotidiano.

Segundo Fraya, de acordo com os relatos e opiniões ouvidas desta população, as condições delas até “melhoraram” na pandemia, porque conseguiram mais visibilidade social, tem recebido mais ajuda. Se tornaram mais visíveis para a sociedade e tiveram algumas melhorias que a prefeitura fizeram para elas, por exemplo. Por outro lado, objetivamente, os riscos que esta população tem corrido estão maiores, como a questão sanitária, violência, “o próprio padre Júlio, que vem sofrendo ameaças por parte de pessoas que acham um absurdo que algo seja feito para esta população”, comenta.  
 

​​​​​​​“Espero que este trabalho seja uma contribuição ao debate e, em particular, de alguma forma, à melhoria do dia a dia, de que torne menos penoso o dia a dia de quem mora nas ruas. Seja através de gestos, doações, seja através de palavras de afeto, que cada um de nós pode compartilhar, quanto não evidentemente, políticas e atitudes políticas mais amplas. [Que] Isso de alguma forma consiga mover atitudes mais amplas de parte do poder público”, destaca a professora.
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Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability 

Esta iniciativa do simpósio e do filme não é isolada, ela integra toda um projeto de produção científica e intervenção prática mais ampla, que faz parte das ações do Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability, o Centro Global de Métodos Espaciais para a Sustentabilidade Urbana, que Fraya coordena na USP – e, por extensão, no Brasil – e é produto de um amplo projeto de intercâmbio científico e acadêmico entre a Technische Universität Berlin e 47 universidades de 7 regiões do chamado Sul Global, da Ásia à América Latina. 

A proposta é identificar como os métodos de pesquisa empírica das ciências sociais e das chamadas disciplinas espaciais (em especial arquitetura e urbanismo) podem contribuir para o enfrentamento de algum desafio concreto relativo à Agenda 2030 da ONU, em prol da sustentabilidade urbana.

As sessões do simpósio e o filme foram o ponto de partida e vão funcionar como uma caixa de ferramentas para se colocar em prática mais pra frente sobre o tema morar nas ruas durante a pandemia e pós-pandemia. 

A ideia é colocar estes métodos a serviço das práticas da gestão pública e social em relação a “um fenômeno candente das nossas cidades em tempos de neoliberalismo, que é o morar nas ruas, que hoje é um fenômeno global (...) [Pois], enquanto não mudarmos a maneira de produzir espaço urbano vai haver gente morando nas ruas das cidades do mundo inteiro”, finaliza Fraya.