Nascimento de Oscar Wilde

Autor do famoso "O Retrato de Dorian Gray" (1891), Wilde se firmou como um dos nomes mais influentes da literatura inglesa

Por
Pedro Fuini
Data de Publicação

Oscar Wilde
Para Cesar Veneziani, mesmo depois de mais de um século de sua morte, Oscar Wilde ainda influencia grandemente seus leitores e estudiosos. (Arte: Alice Elias)

Oscar Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854, em Dublin, na Irlanda. Escritor, poeta e dramaturgo, ele se mantém como um dos nomes mais influentes da literatura em língua inglesa. Seu único romance, O Retrato de Dorian Gray (1891), é mundialmente famoso. Ainda jovem, Wilde foi reconhecido por sua habilidade e talento na escrita, colecionando diversos prêmios como poeta e helenista (pessoa especializada na língua e antiguidades gregas). O escritor é geralmente associado ao movimento artístico conhecido como “esteticismo”, caracterizado pela ênfase na beleza, de acordo com Cesar Veneziani, mestre em Estudos da Tradução pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Suas obras ainda carregam críticas aos costumes e à decadência da sociedade e abordam tabus, como a homossexualidade.

Wilde também chamava atenção da sociedade de sua época por seu estilo de vida livre e extravagante. Ele ficou dois anos preso por manter relações com outros homens. Durante o cárcere, escreveu a carta De profundis (1897), dedicada a seu amante; e o poema A balada da prisão de Reading (The ballad of Reading gaol, publicado em 1898), alguns de seus trabalhos mais conhecidos. Após sair da prisão, Wilde foi viver na França, morrendo em Paris, aos 46 anos.

Uma experiência com a obra de Wilde

The ballad of Reading gaol foi tema do mestrado de Veneziani. Ele conta que teve contato com a obra do irlandês ainda na adolescência. Ao ser introduzido ao poema por uma amiga, decidiu traduzi-lo para o português. “Ainda sem a menor intenção acadêmica, fui aos poucos traduzindo outras estrofes até que a obra toda acabou traduzida”, conta. Veneziani apresentou o resultado ao seu amigo Marcelo Tápia, professor do Programa de Pós-Graduação em Letras Estrangeiras e Tradução da FFLCH, que o estimulou a fazer da tradução um trabalho acadêmico e, posteriormente, o orientou no mestrado. “Meu trabalho, utilizando o poema de Wilde, foi centrado no método de tradução do ‘metro de balada’, uma forma popular e característica da poesia inglesa, buscando (re)produzir a métrica, o ritmo e as rimas para o Português”. Confira a entrevista completa com Veneziani:

 

Serviço de Comunicação Social: Para os que não conhecem, quem foi Oscar Wilde?

Cesar Veneziani: Oscar Wilde foi um escritor, poeta e dramaturgo irlandês que até hoje, mesmo depois de mais de um século de sua morte, ainda influencia grandemente seus leitores e estudiosos. Sua habilidade e talento na escrita se manifestaram ainda cedo ao colecionar prêmios por trabalhos como helenista e como poeta antes dos 25 anos. De vida extravagante e atitudes pouco usuais frente à sociedade vitoriana em que viveu, enfrentou grande incompreensão, o que resultou em sua prisão por dois anos por "indecência grosseira" por manter relações com outros homens. Ao ser libertado, foi viver na França, onde escreveu suas últimas obras. Morreu em Paris aos 46 anos.

 

Serviço de Comunicação Social: Quais as principais obras e temas retratados pelo escritor?

Cesar Veneziani: Na ordem cronológica de suas publicações, podemos destacar na poesia "Ravenna" (1878), ganhador de prêmio literário; "Poemas" (1881); e "A balada da prisão de Reading" (1898). Em prosa, escreveu contos de fada, como "O príncipe feliz e outras histórias" (1888) e "A casa das romãs" (1891); contos, como "O crime de Lord Arthur Savile e outras histórias" (1891); um romance, "O retrato de Dorian Gray" (1891); ensaios, como "A alma do homem sob o socialismo" (1891); várias peças, como "O leque de Lady Windermere" (1892), "Salomé" (1892), "Uma mulher sem importância" (1894) e "A importância de ser Prudente" (1895), entre outras; e a carta "De profundis" (1897). Wilde escreveu sobre arte, estética, crítica social, decadência, tabus e beleza, sendo geralmente associado ao movimento chamado "esteticismo".

 

Serviço de Comunicação Social: Por fim, você pode nos contar sobre a pesquisa que desenvolveu acerca de The ballad of Reading gaol de Oscar Wilde?

Cesar Veneziani: Meu primeiro contato com Wilde foi ainda na adolescência, quando li O Retrato de Dorian Gray. Décadas depois, uma amiga me mostrou no original uma estrofe da The ballad of Reading gaol que eu gostei muito e traduzi para lê-la em português. Ainda sem a menor intenção acadêmica, fui aos poucos traduzindo outras estrofes, até que a obra toda acabou traduzida. Mostrei o resultado ao amigo Prof. Dr. Marcelo Tápia que me incentivou a fazer desta tradução um trabalho acadêmico. Tempos depois, ele já com seu título de Doutor obtido e habilitado a orientar na FFLCH, fiz minha inscrição contando com sua orientação e acabei obtendo o título de mestre. Meu trabalho, utilizando o poema de Wilde, foi centrado no método de tradução do "metro de balada", uma forma popular e característica da poesia inglesa, buscando (re)produzir a métrica, o ritmo e as rimas para o português. A alternância de unidades compostas por uma sílaba átona e uma tônica (os "pés" na poesia inglesa, neste caso um "iambo") por equivalentes em nossa língua acabaram gerando versos octossílabos (correspondendo aos versos de quatro "pés" no original de Wilde) e versos hexassílabos (correspondendo aos versos de três "pés" no original de Wilde). O mesmo esquema de rimas do poema de Wilde foi mantido na tradução apresentada no meu trabalho, ou seja, os versos pares rimados nas estrofes do poema, todos compostos alternadamente por versos de quatro "pés" e de três "pés". Dado o longo poema de Wilde (106 estrofes no total!), meu orientador achou por bem utilizarmos um "recorte" (toda a primeira parte do poema com 16 estrofes e toda a sexta e última parte do poema, composta por três estrofes) para nosso estudo. Além das questões técnicas envolvidas na tradução, foi também feito um amplo estudo teórico para embasar as escolhas feitas e validá-las. Foi difícil e muito trabalhoso, mas extremamente gratificante.

Cesar Veneziani é escritor, mestre em Estudos da Tradução pela FFLCH, geógrafo com especialização Lato Sensu em Antropologia e Operador de Reator Nuclear. Publicou os livros de poemas: “Asas” (Utopia Editora, 2009); “Neblina” (Editora Patuá, 2012); “Versos Avulsos e Outras Valsas” (Editora Patuá, 2015); “Dicioneto Mitopoético – de Afrodite a Zeus” (MorningStar Books, 2018); e “Estações do Ano e da Vida” (Editora Patuá, 2020). Sua dissertação de mestrado, Tradução do metro de balada inglês: uma experiência com The ballad of reading gaol de Oscar Wilde, encontra-se disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.