Nascimento de William Wordsworth

Autor de obras como “Baladas Líricas" e "O Prelúdio", William Wordsworth é um dos pais do Romantismo inglês

Por
Alice Elias
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Nascimento de William Wordsworth
Segundo Sofia Nestrovski, "Wordsworth atentou para a importância da relação com a natureza como parte formadora de nossa interioridade; é ela que nos faz sermos pessoas completas". (Arte: Alice Elias)

Em 7 de abril de 1770, nasceu William Wordsworth, poeta celebrado por ter a mente individual como tema principal de seus textos. Considerado um dos pais do Romantismo inglês, é autor de obras como Baladas Líricas e O Prelúdio, esse último publicado postumamente.

A poesia de Wordsworth se desenvolve a partir do foco nas sutilezas pessoais, como a interioridade, as percepções e a memória – aspectos que são fonte de inspiração e cura pessoais. A partir disso, o autor influenciou grandes nomes, como James Joyce, Virginia Woolf e Marcel Proust.

“O efeito geral é uma poesia que não quer chamar atenção para si mesma, mas para a capacidade inata e universal de prestar atenção. (...) Sua poesia é anti-egóica, mais voltada para o leitor do que para si mesma ou para seu autor”, explica Sofia Nestrovski, mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Serviço de Comunicação Social: Quem foi William Wordsworth?

Sofia Nestrovski: William Wordsworth é considerado um dos pais do Romantismo inglês. Ele começou a escrever essa nova forma de poesia depois de perceber os efeitos nocivos da Revolução Industrial e do acúmulo de gente vivendo em cidades grandes, ocupada com trabalhos maçantes e ingratos. Notava que as pessoas estavam cada vez mais anestesiadas para a própria vida e que, com isso, buscavam se satisfazer com estímulos exagerados, como os que encontravam nas notícias sensacionalistas. Além disso, Wordsworth sofreu uma decepção com a subida de Napoleão ao poder, porque havia sido um partidário da Revolução Francesa e da Revolução Haitiana e de tudo o que elas representavam. Entende que a revolução libertadora com a qual ele havia sonhado deveria se internalizar e se realizar metaforicamente do lado de dentro de cada pessoa. Assim, ele passa a escrever num tom pessoal e intimista, sob influência da poesia autobiográfica praticada por mulheres em sua época (nomes como Felicia Hemans, Charlotte Smith, Helen Maria Williams, entre outras). O ideal continua sendo republicano e democrático, mas a compreensão de como a poesia poderia ser útil nessa empreitada é que mudou.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Wordsworth?

Sofia Nestrovski: É uma poesia em tom menor, que se propôs a prestar atenção às sutilezas da mente e do mundo — e, sobretudo, do ponto em que o mundo vira matéria para a mente e a mente informa o mundo. Descreve as percepções e a transformação delas em memória, e da memória individual como fonte de inspiração e cura para cada pessoa. Diferente de uma imagem estereotipada do Romantismo como um movimento de emoções exageradas, a poesia de Wordsworth tenta descrever os níveis mais nuançados da nossa interioridade e com isso abrir espaço para que não se caia em nenhum tipo de moralismo, achatamento ou deformação da experiência. É uma maneira de olhar para nossa vida interior quando ela ainda não foi formatada em sentimentos normativos. O efeito geral é uma poesia que não quer chamar atenção para si mesma, mas para a capacidade inata e universal de prestar atenção.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Sofia Nestrovski: A poesia de Wordsworth foi importante para que a mente individual pudesse ser o objeto principal de um poema. Não foi o único a fazer isso naquele momento, mas sua influência foi marcante para uma série de autores que nos vêm à memória quando pensamos no que é a sensibilidade moderna: James Joyce, Virginia Woolf, Marcel Proust e, no limite, Sigmund Freud. Além disso, Wordsworth atentou para a importância da relação com a natureza como parte formadora de nossa interioridade; é ela que nos faz sermos pessoas completas. Não à toa, chamou atenção para isso justamente num momento em que a Inglaterra estava se urbanizando, e as tradições de vida no campo estavam sendo perdidas. Uma anedota: há pesquisadores que dizem que ele foi o responsável por popularizar o piquenique na cultura inglesa.

Sua poesia é anti-egóica, mais voltada para o leitor do que para si mesma ou para seu autor. Foi muito importante para a romancista do século 19, George Eliot, que vem sendo redescoberta no Brasil recentemente, porque são dois escritores que trabalham na chave da generosidade com quem os lê, e que conduzem, muitas vezes, a um estado de graça e compreensão serena dos nossos processos psíquicos, por mais sofridos que sejam.

Sofia Nestrovski é mestre em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela FFLCH, e graduada em Letras pela mesma instituição. É roteirista e apresentadora do podcast Vinte Mil Léguas: o podcast de ciências e livros, ao lado de Leda Cartum. Foi curadora assistente da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2019, sob curadoria de Fernanda Diamant.